Em discurso, vereadora Juci Cardoso criticou naturalização da violência

Na sessão ordinária da última quinta-feira (12) a vereadora Juci Cardoso começou seu discurso citando a escritora Maria Carolina de Jesus e sua obra mais famosa, que é um best seller, em que afirma que quem inventou a fome são os que comem. Ao fazer referência à um recente caso de injúria racial em Alagoinhas, afirmou que “é impossível, e como o muro não é lugar para mim, é impossível aqui, enquanto parlamentar negra nesta Casa, não falar a respeito de um crime de injúria racial, assim tipificado pela Polícia Civil em nossa cidade”.

Segundo a vereadora, é muito fácil para as pessoas que são racistas ou que comungam com essas práticas, porque aqui Wagner falava sobre a cultura ser um instrumento que garante a jovens, majoritariamente negros e de territórios periféricos, oportunidades por meio da cultura. “Mas alguns não querem, Wagner, que nem vocês e nem a nossa comunidade tenhamos oportunidades e é sobre isso que nós temos que falar aqui, sobre a naturalização da violência”, salientou.

Juci Cardoso registrou a presença de três mulheres negras da Guarda Municipal que atuam na patrulha Maria da Penha. “Nesta cidade, somos 83% de negros e negras. Não é possível falar sobre nada em nossa cidade sem discutir a construção de uma sociedade em que nós possamos defender as relações de respeito, sobretudo aquilo que está na legislação. Racismo é crime e ponto. Violência contra as mulheres não se discute, é crime. Chamar alguém, uma mulher de preta imunda, é racismo”, enfatizou.

A parlamentar afirmou que a sociedade brasileira nega o racismo há séculos e ressaltou que não faz parte desse conjunto, que passa pano, que naturaliza. “Então, a sociedade alagoinhense, assim como a sociedade brasileira, precisa decidir de que lado está e aqui nós não estamos falando de pessoas físicas. Estamos falando enquanto sociedade e que sociedade  queremos construir. Estamos ocupando as universidades, espaços como esse garantindo que nossas vozes tenham reverberação, inclusive, para além desta Casa. E é obvio que nós acionamos o Centro de Referência Nelson Mandela para que acompanhe este e outros casos registrados na cidade, assim como o Ministério Público Estadual. É importante lembrar que no último dia 10 a Assembleia Legislativa do Estado da Bahia aprovou a criação da DECRIN, que é a delegacia especializada no combate aos crimes de racismo e intolerância religiosa, que tem a prerrogativa de discutir a prevenção, mas também o registro qualificado porque as forças de segurança, as estruturas de justiça e polícia precisam estar preparados para acolher os depoimentos daqueles que buscam um sistema que na democracia está organizado para garantir a todas as pessoas tanto o direito de defesa, mas também o direito de defender os seus direitos na condição de cidadã e cidadão brasileiros”, argumentou.

Ascom – Câmara Municipal de Alagoinhas

Foto – Jhô Paz

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